O Bailado do Deus Morto - A Live #1

             Teatro Oficina lança mais um espetáculo totalmente digital “O Bailado do deus Morto”

O Bailado do deus Morto, peça de Flávio de Carvalho escrita para a inauguração do Teatro da Experiência, em 1933 e censurada já na noite de estréia, imediatamente ao fim da apresentação, põe em cena uma reflexão sobre a fé, o medo e a morte de um Deus animal que se transfigura com a mecanização do mundo, temas sobre os quais o autor também escreveu em seu texto A Origem Animal do Deus, publicado junto com a peça. Tanto no texto e rubricas de gestos e movimentos corporais da peça quanto nas fotos e relatos que se tem da montagem, nas máscaras, fica claro o diálogo de Flávio com vanguardas modernas do início do século, como primitivismo, surrealismo e expressionismo - e a sua deglutição.

Em agosto de 2019, o Oficina foi convidado para participar da exposição Flávio de Carvalho - O antropófago ideal, na galeria Almeida e Dale, e optou por encenar o  Bailado do Deus Morto. A companhia já havia trabalhado em outras versões da peça em duas ocasiões - Bienal de São Paulo de 2010 e Festival de Arte Serrinha em Bragança Paulista. Foi entre as telas vibrantes de Flávio que estreamos essa remontagem de 2019, num cubo branco apinhado de visitantes, na manhã da vernissage. Depois de algumas apresentações,  a montagem foi transposta para a comprida rua Lina Bardi, no terreiro eletrônico do Oficina, onde teve curta e calorosa temporada em janeiro de 2020. A última encenação na pista do Oficina foi justamente o Bailado, na véspera de decidirmos interromper nossas atividades pela pandemia.

Afastados da sede do teatro no Bixiga e da possibilidade de trabalhar juntos e contracenar com o público atuador, enquadrados em telas de computadores e celulares, atrizes e atores se viram diante do radical desafio de redimensionar a peça para o mundo digital-virtual. Dirigidos por Marcelo Drummond, cada um na sua casa transformada em estúdio-teatro, atuadores e músicos entrarão em cena ao vivo para 6 apresentações. O ingresso poderá ser adquirido através da plataforma de eventos online Sympla e a estréia está prevista para domingo 16 de agosto, dia em que o Teatro Oficina comemora os 59 anos do terreiro, o prédio do Teatro Oficina, nascido em 1961 com a profissionalização da companhia, encerrando uma semana de intensa programação pela celebração do aniversário.

“O Bailado do deus Morto” foi o segundo texto que o Oficina escolheu para transformar em transmissão ao vivo. O primeiro foi “Paranóia, espetáculo a partir da obra de Roberto Piva, que segue em cartaz no espaço digital do Teatro Oficina na Sympla.

TEATRO NA PANDEMIA

Há seis décadas, o Oficina tem contracenado com multidões que assistem aos espetáculos em sua sede no Bixiga e em outras cidades por onde o grupo passou ao longo de sua trajetória. E agora, diante da pandemia e da impossibilidade de se apresentar sem o público atuador, busca reinventar o rádio teatro, produzindo séries de podcasts durante a quarentena. Os ensaios acontecem por videoconferência, como um meio de manter a atividade teatral.

O BAILADO

“O Bailado do deus Morto” é uma dura ação reflexiva sobre o patriarcado, a religiosidade e sua ligação com a fome, o medo e o sexo destronador da mulher inferior, que tira o deus animal do mato e o faz homem civilizado, sem a condição de deus. Enquanto todos ficam perplexos, as benesses do deus são distribuídas para os humanos em produtos industrializados num mundo mecanizado que não pode criar outro deus.