Medeia Vozes (Mini Temporada Relâmpago)
São apenas três apresentações de Medeia Vozes, dias 21, 27 e 28 de outubro,
na Terreira da Tribo. Os ingressos custam R$60,00 inteira e R$ 30,00 meia para artistas, estudantes, professores e aposentados.
A
Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz toma uma versão antiga e
desconhecida do mito, trazendo uma mulher que não cometeu nenhum dos
crimes de que Eurípides a acusa. O mito é questionado e reelaborado de
maneira original, para analisar o fundamento das ordens de poder e como
estas se mantêm ou se destroem. Medeia é uma mulher que enxerga seu
tempo e sua sociedade como são. As forças que estão no poder
manifestam-se contra ela, chegando mesmo à perseguição e banimento, ela é
um bode expiatório numa sociedade de vítimas. À voz de Medeia somam-se
vozes de mulheres contemporâneas como as revolucionárias alemãs Rosa
Luxemburgo e Ulrike Meinhof, a somali Waris Diriiye, a indiana Phoolan
Devi e a boliviana Domitila Chungara, que enfrentaram de diferentes
maneiras a sociedade patriarcal em várias partes do mundo.
Medeia
Vozes ganhou o Prêmio Açorianos em 8 categorias (melhor espetáculo,
atriz para Tânia Farias, cenografia, iluminação, trilha para Johann Alex
de Souza, dramaturgia, produção e direção), além do troféu do Júri
Popular. E em 2014 ganhou mais um prêmio açorianos na categoria de
melhor espetáculo, concedido pela EEPA (Escola de Espectadores de Porto
Alegre).
“Pronunciamos
um nome, e, como as paredes são permeáveis, entramos no tempo que foi o
seu, encontro desejado. Sem hesitações, ela responde das profundezas do
tempo ao nosso olhar. Infanticida? Pela primeira vez esta dúvida. Um
encolher de ombros, de desprezo, um voltar às costas. Ela já não precisa
da nossa dúvida, nem dos nossos esforços para lhe fazer justiça,
afasta-se. Antecipa-se de nós? Foge? As perguntas perdem o sentido pelo
caminho. Mandamos-lhe embora, ela vem ao nosso encontro das profundezas
do tempo, nós mergulhamos nele, passamos por épocas que, ao que tudo
indica, não nos falam de forma tão clara como a sua. E há de haver um
momento em que nos encontramos.
Somos
nós que descemos até aos Antigos? São eles que nos apanham? Tanto faz.
Basta estender a mão. Passam para o nosso mundo com a maior facilidade,
estranhos hóspedes, iguais a nós. Nós temos a chave que abre todas as
épocas, por vezes a usamos sem reservas, deitamos um olhar apressado
pela fresta da porta, ávidos de juízos precipitados. Mas também deve
haver maneira de nos aproximarmos passo a passo, com um certo pudor
diante do tabu, dispostos a arrancar dos mortos seu segredo, mas
assumindo o preço de algum sofrimento. O reconhecimento das nossas
fraquezas – era por aí que devíamos começar.
Os
milênios dissolvem-se, sujeitos a fortes pressões. Deve então manter-se
a pressão? Pergunta ociosa. Falsas perguntas fazem hesitar a figura que
quer libertar-se das trevas da cegueira que nos impede de conhecê-la.
Temos de lhe avisar. A nossa cegueira forma um sistema fechado, nada a
pode refutar. Ou teremos de nos afoitar no mais íntimo da nossa cegueira
e autocegueira, e avançar, sem mais, uns com os outros, uns atrás dos
outros, o ruído da derrocada das paredes nos ouvidos? Ao nosso lado, é
essa a nossa esperança, a figura de nome mágico que em si faz convergir
os tempos, processo doloroso. Nessa figura é o nosso tempo que sobre nós
se abate. A mulher bárbara”.
Christa Wolf