TERÇA ABERTA

Um trabalho que dribla entre o desejo de não lembrar e a impossibilidade de esquecer uma memória traumática. Se aproximar do trauma para além da moral, complexificando as relações sem estigmas de vítima ou algoz. Sustentar a violência e o amor presentes na memória e dançar com ambos. Isso aqui não é um processo de cura, não é uma denúncia, não é um pedido de desculpas. É a sustentação de um não saber. Não saber o que fazer com isso que me deram, mas tentar, a partir e apesar do trauma, criar ficções de futuro. Duração:  30 min

Permanecem dentro? Passam a habitar o corpo?

Fazem o sangue ferver, estancar ou derramar?

Seus significados se transformam com o tempo?

A língua pode mudar, mas o significado nem tanto.

Duração:  12 min

Tatiana Guimarães faz um retorno à autobiografia a partir do sentimento de não ter experimentado o amor materno, desde muito pequena até os dias atuais. Ainda é presente a memória do incômodo que sua presença à causava, o que engatilha um enorme vazio e  uma reincidente pergunta: por quê?

O ponto da pesquisa é a imagem de Renné Roussillon, correspondente aos três graus do trauma:

"Um homem passa num jardim ao lado de uma estátua que o vento, de repente, derruba em cima dele. Trata-se de um acidente, um acontecimento que pode, em uma vida, tornar-se um drama, mas é datável, localizável, circunscrito. [...] nessa medida, indiferente (exterior) ao sujeito.

O homem tenta sair de sua posição difícil e dolorosa embaixo da estátua e percebe o rosto daquela, que parece refletir uma figura enigmática de seu próprio rosto. Ele se vê assim confrontado à questão de seu destino, e a situação torna-se trágica. [...] a realidade não é mais indiferente a ele [...]. “Por que isto precisava acontecer comigo”? A partir daí uma teoria simples do traumatismo não é mais organizável, [...] a tópica interna desarranjou-se e se faz ouvir a questão da relação do narcisismo com o objeto.

No terceiro momento, o homem cessa de se debater, a estátua o esmaga e cola-se a ele, pele a pele, os rostos confundem-se e se misturam. No máximo, percebe-se, de vez em quando, o movimento de apelo de uma mão que se estende:

"[...]o sujeito é afetado em/por um destino que se confunde com ele, (...) a deformação é permanente (...), nenhuma ‘teoria’ traumática pode ser organizada, o trauma perdeu-se no caminho, e com ele a questão da causalidade, do objeto. Somente o movimento furtivo da mão testemunha que talvez nem tudo esteja irremediavelmente decidido [...].

Em suma, a criança se culpabiliza pela ausência desse amor, fundindo o evento externo a si mesma.

Pesquisa-se técnicas audiovisuais que explorem graus de fusão entre o corpo  e diferentes estátuas. Em cena, um colchão de solteiro e um travesseiro, tendo no último um objeto para composições imagéticas multiplicadoras de semânticas visuais. Há um foco de pesquisa de ação pautado no "movimento de apelo de uma mão que se estende", como cita Roussillon. Pretende-se que a atmosfera de vazio componha imagens, ora estáticas, ora lentas. No entanto, haverá a busca por uma beleza das formas, a partir de uma pesquisa em acervos de diferentes imagens de estátuas, prioritariamente as apolíneas. 

Estas propostas são apenas dispositivos iniciais para a pesquisa, que podem ser conduzidas para lugares completamente diversos.

O trabalho terá o artista visual Fábio Tremonte como interlocutor, problematizando as questões estéticas referentes à obra. Duração:  25 min