Em março, completaram-se dez anos de um crime que chocou o país e mobilizou a imprensa, a polícia e a Justiça até o julgamento do caso: Isabella Nardoni, com apenas 5 anos de idade, foi assassinada e seu pai, Alexandre, junto com a madrasta, Anna Carolina Jatobá, foram condenados e estão presos até hoje em São Paulo. O jornalista Rogério Pagnan estava de plantão na redação da Folha de São Paulo naquele final de semana e acompanhou o início das investigações.
Alguns dias depois do crime, ele entrevistou um pedreiro que disse ter encontrado a porta da obra em que trabalhava, ao lado do prédio da família Nardoni, aberta. O pedreiro, mais tarde, não se sabe por qual motivo, negou o depoimento. Rogério descobriu que policiais da Rota estiveram no local, na noite do crime. Mas a própria polícia civil desconhecia o fato, que não constava, portanto, do boletim de ocorrência. Este e outros fatos chamaram a atenção do jornalista e ele decidiu investigar o caso mais a fundo. O resultado de sua apuração contesta diversas das provas usadas pela polícia e pelo promotor do caso durante o julgamento. Elas estão relatadas no livro “O pior dos crimes”, que ele lançou em março pela Record.
Na obra, Pagnan revela omissões na investigação da polícia e falhas na elaboração do relatório final da perícia e no indiciamento do casal pelo Ministério Público.
Dez anos depois, “O pior dos crimes” desmonta muitas das convicções formadas pela opinião pública sobre o assassinato. O sangue encontrado no carro da família? Não era sangue. O sangue do apartamento? O reagente utilizado não dava 100% de certeza se era sangue ou outra substância. Nem todas as pistas dadas pelas testemunhas do edifício London foram investigadas pela polícia. Alexandre e Anna Carolina nunca confessaram o crime, embora o livro aponte que houve uma negociação para que o pai o fizesse. Depois de tantos anos, resta a questão: o julgamento, com base nesses novos fatos, poderia ser anulado?
SOBRE O AUTOR:
Rogério Pagnan nasceu em Pedregulho, SP, em 1970. Jornalista formado pela Universidade de Franca, é repórter da Folha de S.Paulo desde 2000. Especialista em segurança pública, escreve sobre investigações policiais e grandes júris. É ganhador, entre outros, do Grande Prêmio Folha de Reportagem de 2012 e do Prêmio Latino-americano de Jornalismo de Investigação de 2017, organizado pelo Instituto de Prensa y Sociedad (IPYS) e pela ONG Transparência Internacional.