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Pulsão Crip: de tempos em tempos, um monstro ataca de surpresa

07 mai - 2024 • 18:30 > 07 mai - 2024 • 20:00

 
Evento Online via Indefinida

Descrição do evento

Título: “Pulsão Crip: de tempos em tempos, um monstro ataca de surpresa”


Objetivos e Justificativa


Como bem coloca Costa (2021) em resenha da obra “Pragmatismo pulsional”, de João Perci Schiavon (2019), a pulsão é um dizer, é uma vida desconhecida, uma afirmação primordial e, por princípio, uma entidade de fronteira atravessando planos e sendo ela mesma de consistência ética, ao exigir estratégias psíquicas e culturais à altura de seus desafios. 


Isso se torna tarefa árdua, pois, como colocam Dri Azevedo (2022) e Karl Posso (2009), em diálogo com Julia Kristeva (1982), quando uma vida não é  arauto de um cronograma corponormativo  nem  exerce cumplicidade com a identidade familiar (cisheterossexista), esta (vida) representa a ameaça da sujeira, do lixo corpóreo, do abjeto como aquilo que perturba a identidade e a ordem. 


Sendo assim, a proposta do curso aponta para a instauração de mostruários clínicos como denúncia e presentificação da estranheza.  Quem é o monstro, afinal? Questão que recuperamos de Freud a partir do conceito de “unheimlich,  situado precisamente na ideia de estranho e sinistro, pois invoca a definição de Schelling, conforme Freud (1996, p. 242),  ao afirmar “ser ameaçadoramente estranho aquilo que deveria ter permanecido oculto e se tornou evidente.” 

 

Justificativa: 


O corpo inesperado de ume analista crip, parafraseando Rosemarie Garland-Thomson (apud SILVERA, 2018), desencadeia ansiedades impensáveis que investigam os contornos e os limites do que tomamos como humano. De acordo com Jack Halberstam (2020), para os queers/crip, a falha pode ser um estilo. Para tanto, construiremos também durante o curso pistas para uma clínica camp. 

Em referência a Susan Sontag (1996), Dri Azevedo (2022) definirá o camp como uma gargalhada social por meio de um esgotamento explosivo de energia, e também como esbanjamento de energia pela extravagância de um estilo, desafiando binarismos. É a encarnação de uma “seriedade fracassada”, complementa Sontag (1996), um “demasiado” por fissurar cronogramas corponormativos e da diferença sexual, por transgredir e romper cotidianamente com frames sufocantes que violentam e matam. 

 

Plano do curso:


Trataremos o conceito freudiano de pulsão (trieb) como um operador de fronteira entre o psíquico e o somático, de modo a lançarmos mão da teoria crip, ou, como traduz Marcos Gavério (2015), à brasileira, do pensamento aleijado, como estratégia que desestabiliza binarismos: ameaças crí(p)ticas, aleijadas em suas esquisitices, monstruosidades, defeitos, espectros assombrando as normalidades, de modo que marcadores somáticos possam se tornar fonte de conhecimento a partir de sua singularidade e seu modo de existência (GREINER, 2023).


Partimos de fissuras na razão identitária, nos infiltrando em seus quadros de previsibilidade e controle, perturbando formas de ser. E, em nosso caso, discutiremos o capacitismo epistêmico, através da escuta de uma economia do discurso e da aposta de que nossos lugares nunca foram ou são os mesmos. Disputamos que nossa experiência de vida oferece um tipo de saber próprio. Sendo assim, também construiremos uma experiência compartilhada de nosso universo afetivo, próximo ao que propõe Grada Kilomba (2021). 


Considerando a partir de Garcia-Roza (1986) que a pulsão é disjuntora de esquemas corporais inatos, produtora de novos esquemas e potencialmente desmanteladora da ordem natural de determinados sentidos e parâmetros, articularemos tal pluralidade anárquica de energia com o conceito de abjeto em Julia Kristeva (1982). Para esta autora, o abjeto é um objeto baixo, alijado, que nos lança lá onde o sentido desmorona e o significado entra em colapso. 

 

Aula 1: crip box – 7 de maio, das 18h30 às 20h

 

 

Para Kristeva (1982), a abjeção é uma experiência de confronto imprevisível com elementos relacionados a um ideal de perfeição, à finitude, expondo nossas fragilidades. O sujeito não existe sem aquele da abjeção. O abjeto estaria no limbo e em constante tensão entre as margens e o centro, a partir de um deslocamento de algo de seu local costumeiro, o que levaria a um colapso de sentido e incertezas constantes, ameaçando a solidez e a comodidade do Eu (MATTUELLA, 2020). Com o abjeto, segue Kristeva, nós temos encontros diários e, em muitos dos casos, desejamos manter distância, ao passo que se sente grande fascínio.


Neste território ininteligível na fronteira da abjeção, habitam as vidas impensáveis, invivíveis e que representam as ameaças à norma e à vida social. É, neste sentido, que Mello (2014) define essas zonas como povoadas dos que não gozam da condição de sujeitos para que uma matriz de inteligibilidade possa se manter hegemônica e, “desde essa perspectiva, os corpos deficientes também são queer” (ibid., p. 51). 


Partindo da concepção de uma ética do híbrido, da relacionalidade, do encontro não essencialista, das zonas psíquicas em Ayouch (2019), realizaremos um crip rides, um passeio aleijado, que opere uma enunciação arriscada, conforme Mombaça (2021), ao redistribuir uma violência histórica que vulnerabiliza/subalterniza/precariza corpos com deficiências. Em nosssa companhia, teremos pensadores crip fundamentais para elaborarmos um letramento defiça.

 

Aula 2: o dia da quebradeira – 14 de maio, das 18h30 às 20h

 

Por fim, alcançaremos uma concepção de técnica analítica que nos leva a refazer cenas com vias a instauração de um olhar estrangeiro, de modo que habitemos uma inquietação a ponto de inventarmos algo a partir do corte operado, da sutura, dos fragmentos de trauma, no intuito de perlaborar nossos afetos e aumentar nosso repertório teórico-clínico diante uma situação de impasse (KVELLER, 2018; MATTUELLA, 2020).


Para tanto, defendemos nossa monstranálise como uma estratégia de recombinar e reconfigurar fragmentos e estilhaços. Assim como Albuquerque (2023), Jota Mombaça (2021) é uma das nossas inspirações para pensar uma clínica camp/crip - que contunde, torce, dobra – através do estilhaçamento como quebra, em sentido duplo, já que os estilhaços, desde esta mirada, não só emergem como denúncia da fragilidade dos universais, mas também denunciam a produção de inadequação e não-cabimento de certos corpos em determinados espaços, nos levando a se fazer presentes à moda de cacos e estilhaços (ALBUQUERQUE, 2023). 


E o “mal-estar” que se produz na cultura ao se sair às ruas tão quebrade assim é uma potência, nas palavras de Mombaça (2021), pois não pegando a via da plenitude ontológica, a multidão de estilhaços assume a direção de instaurar um outro modo de existência., na qual a força pulsional (que daí se exerce) fura quadros de tragédia e piedade, bem como do espetáculo de horror e da objetificação, apontando, conforme Lina Ferrari de Carvalho e João Manuel de Oliveira (2021), que o transtorno é todo da normalidade.

 

Datas: 07 e 14 de maio de 2024

Horário: 18h30 às 20h

Público-Alvo: Pessoas que trabalham ou tem interesse na psicanálise.

Duração: 3 horas (no total do curso)

Gravação: o curso não será gravado.

Certificado: o curso oferece certificado de 10h de curso livre.

 

Inscrições e valores (curso completo): 


·       Alunes IPPERG: R$ 88,00

·       Estudantes: R$ 110,00

·       Profissionais: R$ 166,00

·       Vagas afirmativas (mediante carta de intenção): 05 bolsas para pessoas negras, indígenas, trans, PCD´s e/ou em vulnerabilidade sócio-econômica. Solicite em: [email protected].

 

Sobre e ministrante: Rodrigo de Oliveira Feitosa Vaz: psicólogue clinique, ator-performer e escritor(e), bicha não binárie, pessoa com deficiência. Graduade em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba (2011), mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2015) e pós-graduande em Psicanálise e Relações de Gênero: Ética, Clínica e Política pelo Instituto de Pesquisa em Psicanálise e Relações de Gênero. Compõe o Coletivo Não Binárie da Paraíba e o Corpo Clínico do Projeto Aquendando Afetos: Saúde Mental para Pessoas Trans. Presta assessoria em escrita acadêmica e literária e publicou o livro de contos “Máquina de Escrever” (2018), pela Editora Kazuá.


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Sobre o produtor

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Instituto de Pesquisa em Psicanálise e Relações de Gênero

Somos um grupo de psicanalistas que, tomados pela ausência de discussões éticas sobre questões interseccionais nas formações de psicanálise (a exemplo de raça, classe, sexualidade, gênero e práticas sexuais, de uma forma despatologizante e atualizada), decidiram criar um espaço onde esses debates sejam permanentes, antirracistas, inclusivos, implicados e situados, surgindo, assim, o IPPERG.

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