SOBRE:

Quando Audre Lorde disse que “Toda opressão está conectada”, talvez não imaginasse os impactos, décadas depois, de sua fala nos movimentos sociais e coletividades dissidentes brasileiras — também muito marcadas pelo revolucionário conceito de interseccionalidade proposto por Kimberlé Crenshaw.

Ambas intelectuais negras apontando que as articulações entre raça, gênero, classe, sexualidade e outros marcadores sociais são fundamentais à formação subjetiva e política dos atores sociais contemporâneos e a compreensão de suas dinâmicas relacionais, em uma sociedade extremamente marcada pela colonialidade capitalista, branco-supremacista, estruturalmente racista, capacitista, lgbtqfóbica.

Interessa refletir, a partir dessas referências, se coletividades e sujeitos políticos têm conseguido relacionar-se e atuar em busca de mudanças sociais sem realizar uma manobra questionável pela qual a noção de que “toda opressão está conectada” parece ser trocada por “qualquer opressão isenta quem a enfrenta de agir, em outros contextos, enquanto pessoa opressora”.

Importa observar dinâmicas relacionais em que a branquitude entre pessoas LGBTQIAPN+, de um lado, e a cisgeneridade de pessoas racializadas, por outro, entram em colisão e levam a falas como “pessoas trans brancas são tão oprimidas que é como se deixassem de viver privilégio branco” ou “pessoas negras cis sofrem tanto com o racismo que é possível relevar suas LGBTQIfobias”.

Urge refletir a quem e a quê interessaria afirmar que pessoas negras cis são incapazes de cometer (consciente ou inconscientemente) lesbofobia, transfobia, capacitismo; ou que pessoas trans brancas são menos brancas por serem trans.

A proposta desse aulão é investigar, a partir de discussões teóricas e análise de conversação, se privilégios estruturais e historicamente consolidados se tornam suspensos ou inoperantes a ponto de garantir que pessoas que vivem algum ou alguns marcadores sociais de diferenças hierarquizadas e subalternizadas tornem-se automaticamente isentas de praticar qualquer outro tipo de discriminação.

E, se tal suspensão não for possível como sugerem os constantes relatos de LGBTQIfobias cometidas por pessoas racializadas ou subalternizações (mulheres, pessoas com deficiência, periféricas) e de racismo cometido por pessoas lgbtqiapn+ ou outras subalternizações (como as já citadas, mas não só), coletivamente debater sobre a construção de um outro repertório analítico e relacional que possa reorientar as formas de vivermos em coletividades que se fundamentam a partir do exercício radical de afirmação, e não apagamento, das diferenças entre nós.

Além das próprias experiências (relatadas pelas pessoas participantes ou coletadas pela proponente), as reflexões e análises serão embasadas no ensaio “Idade, raça, classe e sexo: mulheres redefinindo a diferença”, de Audre Lorde (na tradução de Stephanie Borges, 2019), em que a autora centra discussão na lesbofobia enfrentada por lésbicas negras que por um lado o feminismo branco e por outro setores conservadores do movimento negro destilavam.

IDEALIZAÇÃO E FACILITAÇÃO:

tatiana nascimento, não-binária, brasiliense, mãe da Irê. cantora, compositora, escritora, tradutora, editora na padê (que não é cocaína) editorial – cartonera preta lgbtqia+. sua pesquisa sonoro-poética mergulha sentido, melodia, silêncio y ruído em looping, numa reengenharia de sonhos, pensaventos, afeto, negritudes, cerrado & mar. 17 livros publicados. finalista do jabuti (2022). vencedora do prêmio pallas (2024). idealizadora do primeiro Slam das Minas e da primeira formação sobre privilégio branco no Brasil.

INFORMAÇÕES:

Datas: 09/08, das 10h às 12h30

Valores conscientes, você paga o quanto pode no momento!

Opção 01 - Mínimo: R$30

Opção 02 - Intermediario: R$50

Opção 03 - Ideal: R$70

BOLSA INTEGRAL/PARCIAL: se você quer fazer este curso mas não dispõe de recursos financeiros no momento, mande a sua solicitação de bolsa através do seguinte formulário: https://forms.gle/4S8z62sTcsdr9tRV9

Curso online e ao vivo, via plataforma Zoom

Todas as aulas são gravadas e disponibilizadas para quem estiver inscrite (vídeo disponível no drive por um mês após a realização do curso)

Emissão de certificado de participação para quem assistir às aulas ao vivo.

Classificação indicativa: 18 anos