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cinematografias trans: redes de amparo e coletividades estratégicas.

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Evento encerrado

cinematografias trans: redes de amparo e coletividades estratégicas.

18 dez - 2023 • 19:00 > 19 dez - 2023 • 21:00

 
Evento Online via Zoom

Descrição do evento

SOBRE:

Enquanto pesquisadora das questões da transgeneridade e da travestilidade dentro do cinema, e também enquanto atriz travesti, já faz um tempo que venho me debruçando sobre o pensamento em torno da representatividade transvestigênere dentro das narrativas cinematográficas. Nesse curso, partiremos de um debate acerca da redistribuição de acessos e políticas afirmativas radicais como estratégia de reparação histórica das ausências de pessoas trans e travestis na cinematografia brasileira e no mercado de trabalho audiovisual. Não apenas em produções que se propõem a trazer nossas questões de vida, mas principalmente nelas.


Para além da tecla bastante repetida sobre a contratação de atores e atrizes trans e travestis no campo da interpretação, precisamos ampliar esse pensamento para a equipe e para o cerne da criação, o que envolve as políticas culturais estratégicas de captação de recursos via editais, as práticas de negociação e a consciência do inegociável. Somente dessa maneira é que conseguiremos produzir filmes que expandam os universos desgastados das narrativas trans no cinema. Em seguida, conversaremos sobre o exercício da pesquisa e da consultoria como elemento possível de aliança com uma cisgeneridade aliada (ou para usar um termo que estou preferindo agora: implicada no processo urgente de reelaboração de mundos na guerra planetária em curso).


A atividade de pesquisa e consultoria não é nenhuma novidade dentro da indústria cinematográfica. Historicamente, o cinema sempre abordou alteridades. O mundo do outro sempre interessou à ficção, mas o cinema cisgênero sempre tratou com bastante irresponsabilidade e falta de tato o nosso universo. É ele, inclusive, um dos grandes responsáveis pela criação de um imaginário coletivo deturpado sobre as nossas existências, juntamente à mídia sensacionalista e despreocupada. O que interessa a mim com isso, é debater a consciência de que há uma limitação cognitiva dos corpos cisgêneros na abordagem das nossas vidas, por mais implicado, engajado e aliado que os corpos cisgêneros sejam.


Infelizmente, ainda vivemos um panorama no qual mais da metade das produções cisgêneras que optam por narrativas trans, cometem deslizes na construção fílmica e acabam por reforçar uma série de estereótipos que não contribuem em nada na luta de desconstrução do imaginário sobre nós. O salvacionismo cisgênero geralmente se confunde com aliança. É preciso, então, uma consciência da própria limitação cognitiva para que sejam alçados novos voos – e aprendizados a partir da diferença, não da assimilação. Ver isso assumido, posto em jogo, nos traz o olhar da dúvida que contrapõe desde já uma série de realizações cisgêneras que parecem querer explicar de forma bastante didática o que somos e como lidamos com o mundo, mas fazem isso de forma arrogante e sensacionalista, utilizando a falsa empatia como moeda de apropriação das nossas histórias de vida e do que acreditam ser a interpretação da nossa realidade. Isso tudo a partir de um realismo inventado por eles mesmos para legitimar o que seria, então, o cinema.


Existe muito em jogo. As camadas são profundas, e as feridas também. O olhar de uma cisgeneridade curiosa esteve muito presente na nossa história. Durante muito tempo, os diretores cisgêneros trataram nossas narrativas como se estivessem em zoológico. Essas grades invisíveis estavam lá, protegendo o contato, nos desnudando e jamais pondo em risco a elaboração transfóbica dos sujeitos que nos filmaram. Entender e mapear esses esteriótipos também é objetivo desse curso, investigando repetições, padrões e discursos equivocados acerca das nossas existências.


O direito de corpos trans à sociabilidade é algo bonito de se ver num filme. O que já vimos bastante foram personagens sendo mostrados como excluídos da sociedade, personagens solitários e sem saída narrativa nenhuma. Esse dado da exclusão não é inverídico. Quando falamos de corpos trans na sociedade, estamos sim lidando com os dados reais das vivências da exclusão e da marginalidade, mas, se essas narrativas já foram bastante expostas no mundo da cinematografia, por que não as contrapor? Lendo bel hooks e seus escritos sobre o amor, em Tudo sobre o amor, encontro a seguinte citação: “Há ainda os que dizem que essa força é o que é porque não pode ser nomeada”. Ao me deparar com esse pensamento, reflito sobre como o inominável esteve para além do que fomos representados no ato de sentir os acontecimentos narrativos. A criação de personagens trans na cinematografia nos deu pouco direito ao ato de sentir. A representação do ato de sentir nos colocou, na maioria das vezes, no campo da rasura. A necessidade cisgênera de redução das nossas singularidades foi responsável por um repertório ainda pouquíssimo explorado do ato de sentir o mundo a partir do que não se pode nomear.


Escrever cenas nas quais pessoas trans e travestis estão juntas, contracenam, vivem e conversam sobre situações que estão para além da transfobia estrutural que nos sufoca é um ato político. Em momento algum, isso pode ser lido como um ato de negligência ou falta de responsabilidade com relação ao contexto violento em que vivemos. A criação de cenas que nos possibilitem imaginar que outros mundos são possíveis confabulam com a expansão de um repertório da transgeneridade e o ato de sentir o inominável. Presentificar o inominável através de contraposições narrativas é o que desejo para uma cinematografia responsável e engajada com o debate em torno da figuração de personagens trans e travestis no cinema.


Contrapor é “escovar a história a contrapelo”, para citar Walter Benjamin. Ter contato com o que já foi feito na cinematografia sobre personagens trans e fazer um mapeamento dos estereótipos é uma tarefa de qualquer cineasta implicado com o mundo. É uma maneira potente de se engajar numa luta contra a transfobia estrutural. É possível, sim, inventar outro imaginário coletivo para nossas existências.


São duas aulas.

1: Redistribuição de acessos e políticas afirmativas radicais.

2: Pesquisa e consultoria na construção fílmica.



IDEALIZAÇÃO E FACILITAÇÃO:

@noaaraujoprado

Noá Bonoba é travesti, atriz, roteirista, cineasta, preparadora de elenco, encenadora, dramaturga, pesquisadora doutoranda no PPGCOM- UFC onde pesquisa Transgeneridade e Cinema, Mestra em Artes pelo PPGARTES-UFC, professora formada pelo curso de Licenciatura em Teatro do Instituto Federal do Ceará, curadora da Tomada LBT e do Pequenos Trabalhos não são Trabalhos Pequenos, formada pela V Turma da Escola de Audiovisual da Vila das Artes e atuante em políticas públicas de redistribuição de acessos culturais para pessoas trans e travestis. Atualmente tem se interessado por obras artísticas que utilizam o hibridismo entre linguagens como suporte político da reelaboração planetária em curso. No cinema, atuou nos filmes Cantos dos Ossos de Jorge Polo e Petrus de Bairros, vencedor da Mostra Aurora do Festival de Cinema de Tiradentes, Elusão, de Tais Augusto, Panteras, de Breno Baptista e Estranho Caminho, de Guto Parente. Dirigiu também os filmes O mundo sem nós, Terra Ausente, Nebulosa e Lalabis. Seu primeiro longa-metragem: Iguaraguá, foi contemplado na categoria de Desenvolvimento de Roteiro de Longa- Metragem no Edital de Apoio ao Audiovisual - SECULTCE (2021) e está em fase de captação de recursos. No teatro atuou nas obras Jango Jezebel - onde estavam as travestis na ditadura?, Marlene - Dissecação do corpo do espetáculo, Notas de uma terra devastada e Outro País. Dirigiu as peças Tentativas contra a vida dela, Elefantes Famintos, Notas de uma terra devastada, Go Go Bruce e TextoTrúqui. Atualmente está escrevendo uma dramaturgia capitular sobre a precarização do artista cearense a ser desenvolvida em migração nômade (FORTALEZA-SÃO PAULO), tendo já estreado o primeiro texto Sandra, atualmente em etapa de circulação.




INFORMAÇÕES:

Datas: 18/12 + 19/12, das 19h às 21h


Valores conscientes, você paga o quanto pode no momento!

Opção 01 - Mínimo: R$50

Opção 02 - Intermediario: R$65

Opção 03 - Ideal: R$80

Opção 04 - Fortaleceu demais: R$95


BOLSA INTEGRAL: se você quer fazer este curso mas não dispõe de recursos financeiros no momento, mande um e-mail para [email protected] contando um pouquinho de você e como esse conteúdo pode ser importante <3


Curso online e ao vivo, via plataforma Zoom

Todas as aulas são gravadas e disponibilizadas para quem estiver inscrite (vídeo disponível no drive por um mês após a realização do curso)

Emissão de certificado de participação para quem assistir às aulas ao vivo.


Classificação indicativa: 18 anos

Política do evento

Cancelamento de pedidos pagos

Cancelamentos de pedidos serão aceitos até 7 dias após a compra, desde que a solicitação seja enviada até 48 horas antes do início do evento.

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Sobre o produtor

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BRAVA

A Brava é um espaço dedicado à discussão e compartilhamento de conhecimento e trabalhos feitos por mulheres e pessoas trans. Promovemos cursos de diferentes áreas com trocas horizontais, que subvertem lógicas pré estabelecidas, fomentando um pensamento crítico, atravessado por discussões raça, classe, gênero e sexualidade. Assim movimentamos pessoas, oferecendo um espaço seguro e acolhedor para compartilhamento de saberes em um ambiente pensado para fomentar trocas e expandir conexões.

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