Nesse ciclo abordaremos dois filmes que tratam dos limites entre orgânico e inorgânico na exploração da sexualidade de suas personagens. O cineasta David Cronenberg sempre gostou de trabalhar com questões sobre corpos em processo transformação, corpos híbridos ou corpos em decadência. Para o crítico literário italiano Antonio Caronio, o corpo humano hibridizado de Cronenberg não provém de tecnologias fantásticas, futuristas ou fabulosas: ele é construído, ou ainda, secretado pelos aparatos de cotidiano mais ordinários. A televisão, o automóvel, o videogame: todos eles são objetos pertencentes à rotina, tornados fantásticos na forma como o diretor se apropria deles, para então recorporificar o humano Em seu provocativo filme Crash: Estranhos Prazeres de 1996, seus protagonistas são personagens que sobreviveram a acidentes de carro e se excitam sexualmente com as marcas deixadas pelos acontecimentos, mas também revivendo as batidas de forma cada vez mais intensa. Já a cineasta francesa Julia Ducournau tem usado o corpo no cinema de gênero de maneiras diversas. Em Titane, a personagem protagonista desafia as fronteiras de gênero ao mesmo tempo em que, ao ter uma relação sexual com um carro, engravida do veículo, expandindo o limite daquilo que se entende sobre a biologia do corpo. Em ambos os filmes, entre o suspense e o horror, carne e máquina se fazem desejo em uma fronteira borrada do que é humano: um erotismo ciborgue.
Classificação indicativa: 18 anos
1º Encontro:
Crash: Estranhos Prazeres (Crash, 1996), de David Cronenberg
11/06 às 19:30
Sinopse: Após sofrer um acidente de carro, James desenvolve uma doentia atração sexual por Helen, uma das vítimas do desastre. Por meio dela, conhece um grupo de fanáticos que reconstitui famosos desastres automobilísticos em busca de prazer.
2º Encontro:

Titane (2021), de Julia Ducournau
25/06 às 19:30
Sinopse: Uma mulher com fetiche por carros, uma placa de metal implantada na cabeça e instinto assassino embarca em uma jornada bizarra que envolve identidade, fuga e amor incondicional.
Sobre Isabel Wittmann
Escrevendo sobre cinema desde 2009, Isabel Wittmann é crítica de cinema, antropóloga e pesquisadora. Seu mestrado, em Antropologia Social, foi realizado na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e seu doutorado, também em Antropologia, foi feito na Universidade de São Paulo (USP) e incluiu um estágio doutoral realizado no curso Antropologia e Linguaggi dell'Immagine da Università degli Studi di Siena. A pesquisa realizada resultou na tese
Feminilidades maquínicas: gênero, sexualidade e corpo de mulheres artificiais no cinema fantástico. Sua trajetória como crítica começou com o
Estante da Sala, um blog pessoal, e depois de experiência como colunista e
podcaster em outro veículo, criou o site
Feito por Elas em 2016, com o objetivo de discutir e divulgar a presença de mulheres na sétima arte e seus resultados. Seu trabalho inclui elaboração de críticas (em texto e em áudio), bem como ensaios, entrevistas e coberturas de festivais e tem se concentrado em questões de gênero e sexualidade
(mas não somente) no cinema, partindo de referencial teórico feminista e queer, com contribuições para esse campo por meio de artigos e capítulos em publicações acadêmicas e não acadêmicas, bem como ministrando cursos. Mais de mil pessoas já foram alunas de seus cursos, sejam online ou presenciais. É membra da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), da Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci), integrante do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI) no Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA-USP) e votante internacional do prêmio Globo de Ouro.