16 ago - 2021 • 19:00 > 17 ago - 2021 • 21:00 Ver datas e horários
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O curso, baseado no livro (Ubu, 2018), propõe uma reflexão sobre o estado contemporâneo do mundo, cruzando leituras da arquitetura, das artes visuais, da tecnologia e da política, nas quais os acontecimentos brasileiros estão inseridos em um panorama mundial. Uma das características mais marcantes da arquitetura produzida nos dias de hoje é a consistência translúcida de suas fachadas, muitas vezes embaçadas e enigmáticas. Nos trabalhos de arte atuais, uma presença recorrente são os ambientes imersivos feitos de luz ou de fumaça, onde a dominância da visão é rebaixada em nome do predomínio de outros sentidos. O argumento é o de que esse enevoamento da percepção, identificado na arquitetura e nas artes visuais, corresponde à sensibilidade de um mundo regido por nuvens: nuvens digitais de informação (cloud computing), e nuvens de capital financeiro, que se movem como enxames, evitando todas as formas de fixidez e de estabilidade.
Essa ideia se rebate, metaforicamente, na percepção de que vivemos em um tempo de pouca nitidez, onde as novas formas de dominação e de vigilância, por meio do ciberespaço, distorcem a política e constroem fatos falsos, pós-verdades. Além disso, a fumaça, ou a névoa, são também emblemas dos sucessivos eventos catastróficos que inauguraram o nosso tempo: a implosão do conjunto habitacional de Pruitt-Igoe em Saint Louis (1972), a derrubada do Muro de Berlim (1989), e os ataques terroristas de 11/9 em Nova York (2001).
Transformando a famosa metáfora da ventania do progresso criada por Walter Benjamin nas Teses “Sobre o conceito de história” (1940), podemos pensar que vivemos hoje em um tempo no qual aquele vento unidirecional que empurrava todos para a frente – símbolo maior da modernidade – foi substituído por tufões, furacões e tsunamis, imagens da violência entrópica e desembestada que caracteriza a nossa “sociedade de risco” (Ulrich Beck), onde o “espaço de experiência” e o “horizonte de expectativas” foram muito reduzidos (Reinhart Koselleck).
Mas se a nuvem é expressão de um mundo absolutamente controlado, no qual a violência destrutiva se normalizou numa espécie de tecnossublime contemporâneo, as formas artísticas que exploram a névoa e o embaçamento têm, por outro lado, o poder de se contrapor à “sociedade do espetáculo” (Guy Debord) e ao “mundo da hipervisibilidade” (Jean Baudrillard) que colocam a imagem publicitária, hoje, no centro dos acontecimentos.
Na esteira do retardamento da percepção produzido pelo Grande vidro de Marcel Duchamp (1915-23), desenvolvido depois por artistas como Joseph Beuys e Gerhard Richter, chegamos a arquiteturas sem forma e quase desmaterializadas, como o Blur building (2002) de Diller + Scofidio, o Cloud Pavilion de Sou Fujimoto na Serpentine Gallery em Londres (2013), ou a “arquitetura diagrama” de Kazuyo Sejima, na expressão de Toyo Ito. Expressões radicais de experimentação espacial em um mundo globalizado, no qual, no entanto, a “poética da sombra” oriental (Junichiro Tanizaki) vai se tornando dominante, paralelamente ao fato de que a China concorre ao lugar de nova potência hegemônica no plano geopolítico (Giovanni Arrighi).
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